Para além do autoconhecimento, o encontro com o Eu Real.
- Heitor G. Fagundes

- 27 de jul.
- 2 min de leitura
Para quem ama o caminho do autoconhecimento — ou aprendeu a amá-lo com o tempo — pode parecer que esse espaço dentro de si é infinito. Há sempre um nível mais profundo, um novo véu a ser levantado, uma nova camada de si a ser encontrada.
E isso é belo, verdadeiro e, de certa forma, sagrado. Mas aqui também mora uma armadilha sutil: a de se perder na busca, de se tornar um eterno escavador de si mesmo, como se a paz estivesse sempre mais fundo, mais além — e nunca aqui, agora.
O autoconhecimento é essencial, sim. Ler, estudar, ouvir orientações, fazer sessões, buscar compreender nossos mecanismos e sombras... Tudo isso é um alicerce. Mas é só uma parte.
Porque chega um momento em que o mais importante não é mais o que você descobriu sobre si, mas como você está se relacionando com tudo isso.
Você está usando esse conhecimento para se amar mais ou para se exigir mais? Ele te aproxima da vida ou te afasta dela em nome de um ideal de "cura completa"?
Quantas vezes escondemos, por trás da frase “Conhece-te a ti mesmo”, um impulso de perfeccionismo, uma exigência disfarçada, uma busca ininterrupta por um estado ideal que talvez nunca chegue?
Quando abrimos a caixa de Pandora das nossas dores, é fácil se apaixonar por elas. Querer resolver tudo, ponto por ponto, emoção por emoção. Mas... será mesmo necessário? Será mesmo esse o caminho do coração?
O Eu Real não é o herói que vai surgir no fim dessa jornada como um troféu. Ele já está aqui. Sempre esteve. Ele é um lugar. Um estado interno. Um ritmo em que o coração bate tranquilo.
Por isso, pergunto: quando foi a última vez que você parou e se conectou com algo que simplesmente acalma, que não precisa ser entendido nem transformado? Algo que te lembra quem você é, sem exigir que você “melhore”?
E nas suas relações... seu coração se aquieta ou se fecha? Ele pulsa em presença ou se tensiona, congela, se esconde? Às vezes, buscamos tanto nos conhecer que deixamos de viver. E o mais sutil de tudo: não percebemos que estamos tentando “resolver” a vida, em vez de habitá-la.
O Eu Real não é uma voz escondida que um dia você vai desenterrar e liberar para o mundo. Ele é aquilo que se manifesta quando você se aquieta. Quando você se entrega. Quando você escolhe parar de se vigiar, de se exigir, de se moldar — e simplesmente se visita. Repetidamente. Com carinho. Com presença.
Sim, o autoconhecimento é importante. Fundamental. Mas ele é só o começo. Ele é a estrada, não o destino. O Eu Real, esse lugar em que o coração bate em paz, só se revela quando deixamos de idealizá-lo.
E talvez, só talvez... você já esteja muito mais perto dele do que imagina.








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