Filhos Ausentes
- Heitor G. Fagundes

- 2 de set.
- 2 min de leitura
A ausência de um filho tem muitos rostos. Às vezes vem de um divórcio mal resolvido, onde o silêncio entre os adultos vai criando muros invisíveis. Em outras, são os comportamentos imaturos – tanto dos pais quanto dos filhos – que afastam, rompem os fios sutis da convivência.
Há também as ausências que chegam como um raio, as mortes precoces, que arrancam sem aviso a presença mais preciosa. Ou então, mudanças de vida mal planejadas, quando um sonho de liberdade vira solidão. Seja como for... dói.
Dói de um jeito que a mente tenta desesperadamente evitar. Criamos distrações: nos afundamos no trabalho, buscamos preencher o vazio com conquistas, com relações, com qualquer coisa que nos afaste do que realmente sentimos. E assim, fugimos. Colocamos a dor em uma caixa e a guardamos no congelador da alma.
Mas, de tempos em tempos, ela escapa. Brota como uma flor no asfalto. E incomoda. Então fazemos o que sabemos fazer: envolvemos essa dor em gelo novamente, com um raciocínio que parece razoável – “já que não tem jeito, vamos seguir em frente”. Tocamos a vida. Mas será que é mesmo seguir?
Existe um outro caminho. Mais silencioso, mais verdadeiro. Ir ao encontro dessa dor. Não com pressa, não tentando consertá-la. Mas apenas sentando-se ao lado dela, como quem visita uma velha amiga que já se foi, mas que ainda vive em nossas lembranças. Acolhê-la. Dizendo: “eu vejo você”. Ela faz parte de você. Negá-la é como negar uma parte do seu coração.
Talvez, só talvez, você possa permitir-se visitar essa dor por uns minutos por dia. Conversar com ela. Respirar com ela. Quem sabe com a ajuda de um terapeuta, de alguém que possa caminhar com você nesse mergulho. Porque mergulhar não é fácil. Exige coragem, e às vezes, companhia.
Mas, por favor, não fuja. Não congele. Não abandone essa parte sua. A dor veio não para destruir, mas para revelar. Ela é um chamado para que você descubra uma nova forma de viver com as perdas — uma forma que não passe pela negação, mas pela integração.
E pode ser que, aos poucos, muito aos poucos, você descubra algo surpreendente: que essa dor é um portal. E que atravessá-lo pode lhe dar acesso a uma força, uma humildade, uma capacidade de pedir ajuda sincera, profunda e sem máscaras, como talvez você nunca tenha experimentado antes.
“Quando você experimenta a dor real, está muito mais próximo da harmonia interior do que quando se defende desta dor e se sente perturbado, rebelde e dividido em muitas direções.” (Palestra Pathwork 190)
Que você possa encontrar esse lugar de dor limpa – não para sofrer, mas para se tornar inteiro. Porque sim, a ausência de um filho dói... mas essa dor pode ser um caminho de volta para si mesmo.








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