O Jovem e o Velho em Mim
- Heitor G. Fagundes

- 29 de jul.
- 3 min de leitura
Hoje em dia, quem está na faixa dos 50 ou 60 anos vive uma travessia curiosa. Por um lado, há uma sensação vibrante de juventude pulsando por dentro. Por outro, uma sabedoria calma, quase ancestral, começa a florescer. E esses dois mundos, tão distintos e verdadeiros, convivem dentro de um só corpo. Dentro de mim.
Aos 50 e poucos anos, percebo que a vida não está no fim. Longe disso. O autoconhecimento — essa jornada profunda de olhar-se com verdade — revela com clareza que há ainda muito a ser vivido. Muito a ser descoberto.
Aliás, é agora que estou descobrindo quem sou de verdade. Meus desejos mais genuínos, meus potenciais adormecidos, aquilo que foi deixado de lado por medo, por falta de tempo, por priorizar outros. Mas que ainda mora aqui. Vivo. Esperando ser vivido.
É fascinante perceber que o mundo tem mudado também. Tem nos convidado a viver, a experimentar, a recomeçar, mesmo depois dos 50. Aliás, sobretudo depois dos 50. As redes, os cursos, os espaços… tudo parece sussurrar: “Vai! Ainda dá! Ainda é tempo!”
E como é bom perceber que sim, há tempo. E há energia. Muitas vezes, sinto dentro de mim a vibração curiosa e entusiasmada de um adulto de 25 anos. Com um diferencial: agora tenho mais clareza, mais recursos, mais estabilidade. Posso ir com calma, sem pressa, mas com profundidade.
Mas junto dessa força jovial, desperta também outra presença. Um ser mais quieto, mais sábio, mais paciente. Um velho em mim. Um ancião que observa, pondera, e sorri diante da minha pressa. Ele me diz: “Calma. As coisas têm seu tempo. Olha com o coração antes de decidir.” Ele não exige. Ele acolhe. E sua presença é um alívio.
Esses dois em mim — o jovem entusiasmado e o velho sereno — às vezes entram em conflito. O jovem quer correr atrás do tempo perdido, experimentar tudo de uma vez. O velho diz que não há nada perdido, que o tempo é agora, e que a pressa pode ser só outra forma de fuga.
E, nesse diálogo interno, por vezes fico tenso, dividido, cansado. Quem sou eu afinal? Qual dos dois está certo? Será que preciso escolher?
Foi então que o autoconhecimento — esse caminho vivo que nunca acaba — me revelou algo ainda mais profundo: eu não sou nem o jovem, nem o velho. Eu sou aquele que os escuta. Aquele que os acolhe. Sou o observador que pode unir ambos num terceiro centro.
Um lugar de integração, onde posso celebrar a juventude com maturidade, e viver a maturidade com leveza.
Esse centro sabe escolher, separar o joio do trigo. Sabe o que pode ser vivido agora, com alegria, e o que pode ser deixado para trás com paz.
A palestra 131 do Pathwork nos ajuda a entender
"O eu observador é o ego saudável que escolhe olhar, que escolhe perguntar, que escolhe assumir a responsabilidade por seus sentimentos, pensamentos e ações — não para agir de forma cega, nem para reprimi-los, mas para permanecer presente com eles, em consciência."
Neste processo, percebo que não estou em crise de meia idade. Estou, talvez, no melhor da vida: quando posso ser dois em um, e ainda assim, mais do que isso. Posso ser inteiro. E posso ser novo, velho e eterno — tudo ao mesmo tempo.
E você? Consegue escutar o jovem e o velho que vivem em você?








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