Mudar ou Não Mudar, eis a Questão.
- Heitor G. Fagundes

- 12 de ago.
- 2 min de leitura
Às vezes, chegamos a pontos na nossa vida em que certas estruturas parecem estar firmemente consolidadas. Temos uma carreira estável, uma relação longa, um certo modo de ver o mundo, até um ritmo interior que nos é familiar. Mas aqui está algo importante — há uma diferença profunda entre consolidação e acomodação. Entre estabilidade e estagnação.
Consolidar algo significa vivê-lo com consciência e presença. Acomodar-se, por outro lado, é como desligar a luz do quarto e continuar lá dentro por hábito, mesmo que tudo esteja escuro.
Quando nos acostumamos com uma situação — seja no casamento, na forma como lidamos com os filhos, no trabalho ou no nosso próprio silêncio interior — começamos a nos afastar daquele chamado sutil da alma. Um chamado que sussurra, muitas vezes de forma quase imperceptível: “isso aqui não é mais verdade”.
E o curioso é que a gente até ouve, lá no fundo. Mas abafamos. Racionalizamos. Dizemos que não é hora, que não vale a pena mexer em time que está “ganhando”. Só que, com o tempo, o que era um sussurro começa a gritar.
Esse grito, na linguagem deste caminho profundo de autoconhecimento, é a crise.
Crises não são punições. São, muitas vezes, a resposta amorosa da vida à nossa surdez. São o aumento de volume de um chamado que ignoramos. Uma crise é a tentativa da alma de romper a crosta de velhos padrões para que algo mais verdadeiro possa emergir. A dor vem não porque estamos errados, mas porque resistimos à verdade que está tentando nascer.
Mas por que resistimos tanto? Por que não ouvimos aquele chamado suave no começo?A resposta muitas vezes está na nossa relação com o medo. Mudar implica morrer um pouco — morrer para o que nos é conhecido, para o papel que nos deu segurança, para a imagem que construímos de nós mesmos. A vontade de mudar não surge como mágica. Ela precisa ser cultivada com decisão, com compreensão e, sobretudo, com amor pelo nosso próprio crescimento.
É mais fácil manter uma relação desgastada do que encarar a dor de revisá-la. É mais seguro manter um trabalho vazio do que confrontar o vazio dentro de nós. Mas o preço que pagamos é alto: o embotamento do sentir. E quando deixamos de sentir, deixamos de viver plenamente.
Mudar exige coragem, sim. Mas acima de tudo, exige escuta. Uma escuta radical da alma. Um retorno à voz suave que fala nos momentos de silêncio, de presença, de sinceridade diante do espelho interno.
Se você sente hoje esse chamado — mesmo que tímido, mesmo que confuso — saiba que ele é sagrado. E você não precisa dar um salto gigantesco. Basta o primeiro passo na direção da verdade. Basta dizer: “Eu estou disposto(a) a ouvir. Estou disposto(a) a ver o que há por trás desse desconforto.”
Tudo começa com o simples movimento de nos voltarmos para dentro com honestidade.
Então, mudar ou não mudar?
Talvez a pergunta mais real seja: você está disposto a viver com verdade, mesmo que isso te leve por caminhos desconhecidos?
A alma sempre sabe. E ela nunca cessa de chamar. Mesmo que, às vezes, precise gritar.








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