O Mar da Vida Depois dos 20
- Heitor G. Fagundes

- 21 de ago.
- 3 min de leitura
Aos 20 anos, algo mágico acontece: o mundo, de repente, se abre com outra luz. Uma luz intensa, cheia de promessas, de estradas, de possibilidades.
Aos olhos da sociedade, somos finalmente adultos. Já não é mais "quando você crescer", é agora. Queremos conquistar o mundo, provar nosso valor, zarpar com coragem no barco dos próprios sonhos.
É como se estivéssemos na beira de um oceano desconhecido, com o coração cheio de esperança e o vento da juventude impulsionando as velas.
Alguns partem com o suporte dos pais, outros seguem sozinhos, no peito e na raça.
Escolhemos uma profissão, uma carreira, um curso — com o desejo sincero de que nossas escolhas nos levem a uma vida onde possamos ser validados. Ser respeitados. Ser parte de algo.
Pertencer sem ter que esconder quem somos. Afinal, o sonho não é só ter sucesso. É ter sucesso sendo a gente mesmo.
Mas o mar da vida não é calmo. Comete-se erros, muitos. Decisões apressadas, projetos mal elaborados, tentativas frustradas. As “bolas fora” são quase inevitáveis. Ainda assim, são elas que vão nos moldando, que ensinam o valor do aprendizado.
E, quando acertamos, quando algo finalmente dá certo, é como avistar terra firme depois de dias de tempestade: uma confirmação de que sim, estamos no caminho.
É verdade que quem chega empolgado, cheio de energia e fé na vida, sai na frente. Mas hoje, infelizmente, essa empolgação tem se tornado cada vez mais rara.
Muitos jovens não conseguem enxergar um sentido no mundo que os cerca. Tudo parece já formatado, previsível, sem espaço para a alma respirar.
Lá pelos 24, 25 anos, muitos já se formaram, já têm um diploma, já estão “no mercado”.
Mas o que encontram é, muitas vezes, um mar de cobranças e boletos.
E aquela vontade de mudar o mundo? Vai dando lugar à obrigação de simplesmente funcionar. Trabalhar, pagar contas, repetir. Dia após dia.
Essa desilusão, embora comum, é dura. E se torna ainda mais pesada quando esbarra no conflito de gerações dentro do ambiente de trabalho. A empolgação dos mais novos pode ser vista como imaturidade, enquanto a rigidez dos mais velhos parece uma barreira para qualquer renovação. É como remar contra a maré.
Por sorte, nem tudo se perde. Alguns laços da adolescência permanecem: amizades que oferecem apoio, redes que nos lembram quem somos quando tudo lá fora parece nos apagar. São âncoras afetivas que ajudam na travessia dessa fase turbulenta.
Mas há um detalhe crucial — e muitas vezes ignorado. Na dor, na dúvida, na crise silenciosa que muitos enfrentam, quase ninguém nos convida a olhar para dentro. A orientação mais comum é “vai lá, encara”, “faz o que tem que ser feito”. Poucos dizem: “e se você parasse um pouco pra se ouvir?”
Talvez, justamente aí, esteja uma chave preciosa. Que tal unir os dois movimentos? Um para fora, sim — buscar independência, experiências, crescimento. Mas também um para dentro.
Conhecer seu mundo emocional, entender suas reações, perceber o que está por trás do que você sente e faz. Isso não só ajuda a lidar melhor com os desafios, mas também melhora os relacionamentos com chefes, pais, figuras mais experientes.
Porque, no fundo, o que eles esperam — mesmo sem dizer — é que você saiba se comunicar, se posicionar, se entender.
Como diz uma das palestras do Pathwork:“Somente quando você não teme mais o seu mundo interior é que poderá viver plenamente no mundo exterior.” (Palestra 131)
Esse mergulho interior não precisa ser pesado. Pode ser leve, bonito, transformador. Pode vir por livros, conversas, terapia, cursos, arte, espiritualidade. O caminho não é único — mas o valor dele é inegável.
Depois dos 20, a vida é um mar. Nem sempre calmo, nem sempre justo. Mas cheio de mistérios, surpresas e descobertas.
Se soubermos navegar com coragem e consciência, tanto nas águas do mundo quanto nas marés do coração, a travessia pode não ser mais fácil — mas será, com certeza, mais verdadeira. E isso, no fim das contas, faz toda a diferença.








Comentários